sábado, 13 de abril de 2013

Tropi Kadron


Primeiro bugue feito em série no Brasil, o Kadron marcou época pelo estilo e pelos cuidados na execução do projeto

Na virada dos anos 60 para os 70, o Brasil entrava de cabeça na influência cultural americana. Era época em que os jovens mais abonados ouviam rock n’roll e sonhavam com ondas havaianas e uma nova mania importada da Califórnia: o bugue, nascido em 1964 quando Bruce Meyers idealizou o Manx, formado por um chassi VW encurtado coberto por uma carroceria de fibra de vidro. No Brasil, o primeiro bugue registrado no Geia (Grupo Executivo da Indústria Automotora) foi o Tropi, em 1969, desenhado por Anisio Campos e construído pela Kadron, tradicional fabricante de escapamentos e acessórios.

A personalidade dos traços de Anisio ficou evidente nos detalhes, como o santantônio integrado à carroceria e os faróis dianteiros, inspirados no inglês Triumph TR5. Em matéria de estilo, dava um banho nos rivais: o Glaspac era uma cópia do Manx americano e o Bugato tinha o estilo controverso da Gurgel. Outro destaque era a qualidade: a carroceria de plástico reforçado com fibra era fabricada pela Puma e depois enviada à Kadron, que reduzia o chassi VW em 35 cm. Do Fusca também vinha o velho quatro-cilindros boxer - o favorito era o 1.3 -, oferecido a partir de 1967. A redução do peso para apenas 520 kg favorecia as frenagens e o baixo centro de gravidade proporcionava boa estabilidade, garantida também pelos enormes pneus traseiros.

A lista de personalização contava com mais de 30 itens, possibilitando que cada exemplar fosse único: instrumentação exclusiva, bancos concha, para-choque tubular pintado ou cromado, entre outros. Os primeiros usavam as lanternas do Fusca e o motor era protegido só pela placa traseira, num suporte basculante. Como isso dificultava a manutenção e inviabilizava a dupla carburação, Anisio redesenhou a traseira, adotando tampa articulada, para-lamas mais retos e lanternas da Variant. Na dianteira, só um retoque: os piscas inseridos nos para-lamas.

O exemplar das fotos foi fabricado em 1971 e pertence a Waldeney Vaz de Moura, que há mais de 20 anos o usa em passeios e viagens. De tão original, ganhou a placa preta. "A maior dificuldade em obtê-la foi convencer o delegado de trânsito de que ele havia sido fabricado em série", diz Moura.

Nascido para as praias, o Kadron surfou nas ondas da juventude: foi homenageado na canção Dune Buggy, dos Mutantes, que usavam um Tropi com as cores da bandeira americana. Sua popularidade só foi afetada pela crise do petróleo de 1973 e pelo número de concorrentes, muitos fabricados em fundo de quintal. Em pouco tempo, bugue virou sinônimo de carro mal construído e perigoso.

A Kadron encerrou a produção em 1977. No entanto, a categoria mantém a fibra, especialmente no Nordeste, onde os bugues proporcionam passeios por praias e dunas. Com e sem emoção.



O Tropi era feito sobre um chassi VW encurtado em 35cm.


Para-brisa rebatível e farol saliente, características do Tropi.


A fibra de vidro cobria o chassi e formava até o painel.


O motor era o tradicional quatro-cilindros opostos do Fusca.


O teto rígido de fibra de vidro era um raro acessório de época, mas havia também uma opção de capota de lona.