domingo, 21 de outubro de 2012

VOLKSWAGEN PÉ DE BOI

Volkswagen Pé de Boi

DESPOJADO, ELE ERA A OPÇÃO DA VW PARA USUFRUIR DE LINHA ESPECIAL DE CRÉDITO

A indústria automobilística brasileira não tinha nem uma década de vida quando o governo federal criou pela primeira vez um incentivo para tornar o carro um produto mais acessível. Era 1965 quando foi criada uma linha de crédito para automóveis zero-quilômetro. O principal requisito era um teto de preço muito baixo, o que obrigou fabricantes a cortar itens de série de alguns modelos. Surgiram DKW Pracinha, Simca Profissional e Willys Teimoso. A opção da Volks, que teve origem no Fusca, seu carro mais barato, ganhou o nome "Pé de Boi". Casou tão bem com o projeto que até hoje é usado como apelido para versões básicas bem despojadas de equipamentos.
A melhor maneira de descrever o Pé de Boi é listar o que lhe faltava. Abdicava de tudo que não fosse essencial a um carro pela legislação de trânsito. Por fora, nada de frisos, retrovisores ou piscas na parte superior dos para-lamas dianteiros. Não havia sequer o emblema VW no capô dianteiro. Entre as cores, só duas opções: cinza claro e azul pastel. Em vez de cromados, aros dos faróis, calotas e para-choques exibiam pintura branca. Os tubos superiores e as garras dos para-choques também foram eliminados.
Por dentro, faltava-lhe tudo: grade do alto-falante do rádio, tampa do porta-luvas, alça de apoio, cinzeiro e marcador de combustível - no lugar, usava-se uma vareta imersa no tanque. Tampouco havia aquecedor, iluminação, porta-objetos na porta, apoio de braço, para-sol e borracha no acelerador. A forração dos bancos era mais simples e o encosto não oferecia regulagem. Os vidros traseiros eram fixos, limitando a ventilação, e o macaco vinha solto no porta malas, onde ficavam as ferramentas, que foram poupadas da sanha economista, mas foram simplificadas.
Em junho de 1966, QUATRO RODAS publicou seu único teste com o mais simples dos Fusca. Expedito Marazzi notava que o que sobrou no carro era de boa qualidade e bem pintado. "Sua direção bem pouco reduzida atende rápida às solicitações", ele escreveu. O motor, de 1200 cm3, trabalhava Redondo em qualquer rotação e acelerava bem até 80 km/h. "O carro chega a saltar, quando sai da imobilidade." Engates fáceis de marcha, embreagem e freios mereceram outros elogios. Porém a falta de forração completa na traseira implicava em nível de ruído maior.
O exemplar 1965 das fotos pertence desde 2007 a um colecionador paulista. Era de uma mulher que ganhou o carro já velho numa rifa. "Ele conservava boa parte das características originais, como forro de teto só no centro", conta o dono. Foi preciso dois anos de restauro para deixar como original um dos raros remanescentes dessa versão no Brasil.
VW Pé de Boi eram equipados depois com o que faltava, descaracterizando sua simplicidade de fábrica. Como carro ainda era um símbolo forte de status na época, a ideia dos primeiros populares nacionais não vingou. Os últimos Pé de Boi deixaram a fábrica de São Bernardo do Campo em 1966. O carro popular só voltaria, dessa vez com maior força, desde a chegada do Fiat Uno Mille, em 1990.


Para-lama sem piscas e ausência do logotipo VW na dianteira


Até a tampa do porta-luvas e a espera do rádio foram eliminadas


Painel da porta não tinha nem apoio de braço.


A forração dos bancos era mais simples.


Calotas brancas em vez de cromadas.


Para-choques simplificados e pintados de branco

Teste
QUATRO RODAS - JUNHO DE 1966

Aceleração - 0 a 100 km/h 47,6 s
Velocidade maxima - 107 km/h
Frenagem - 80 km/h a 0 23,6 m
Consumo - 8,5 a 10 km/l (cidade) e 10 a 12 km/l (estrada)

Preço 

MAIO DE 1966 - CR$ 5 017 000
Atualizado - R$ 47 980

sábado, 13 de outubro de 2012

Luto

Não farei novas postagens durante um tempo aqui no blog. Acabei de receber nesta manhã a notícia da morte de um tio meu. Ele costumava pescar na chácara do meu avô e na tarde de ontem quando ele foi pescar, caiu no rio e morreu afogado. Espero que entendam que é uma razão sentimental de o porque não farei postagens por enquanto. Até mais a todos e uma boa tarde!

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Terror Vermelho

Cem anos atrás – 14 de dezembro de 1911 – Roald Amundsen e sua equipe de exploradores noruegueses se tornaram os primeiros homens a alcançar o Polo Sul, levados por cães. Mas só foi em 1963 que o primeiro carro de linha desembarcou em terras antárticas, um Fusca praticamente de fábrica conhecido como “o Terror Vermelho”. Esta é a sua história.
A primeira tentativa de levar automóveis à Antártida foi com um Arrol-Johnston 1907 e um Austin 7 1927. Nenhum dos carros tinha teto e foram um verdadeiro fracasso no continente gelado, mesmo depois de muitas modificações (o primeiro era tão ruim que frequentemente feria os homens responsáveis por consertá-lo).
Nas décadas seguintes, cães siberianos e trenós motorizados foram os meios de transporte dominantes entre os exploradores da região e, mais tarde, os cientistas.

     

Na década de 1960, entretanto, estava claro que os cachorros seriam substituídos na região, mas as únicas alternativas motorizadas eram caros veículos com trenós. Roy McMahon, indicado em dezembro de 1962 para liderar uma expedição de um ano para a ANARE (expedição nacional australiana de pesquisa antártica), viu uma oportunidade quando teve a chance de escolher quais veículos levar para a Estação Mawson da Austrália.

McMahon foi à Volkswagen da Austrália e pediu um carro grátis. McMahon sabia que um Volkswagen antártico seria uma grande oportunidade publicitária para os Fuscas que começavam a ser fabricados no país, então eles resolveram deixar que McMahon retirasse um sedã Vermelho Rubi da linha de montagem. Em menos de três meses e com poucos mil quilômetros no tacógrafo, o carro desembarcou do quebra-gelo Nella Dan, e logo foi apelidado de “o Terror Vermelho”.

Por ser refrigerado a ar, não tinha um líquido de arrefecimento para congelar, apesar de precisar de um óleo fino como querosene para se manter lubrificado em temperaturas abaixo de 50 graus. As únicas modificações para preparar o carro eram mudanças comuns que a VW fazia em seus carros para o norte da Europa e um par de placas “Antarctica 1”.

O besouro encontrou um cenário desanimador: sem estradas, temperaturas negativas, e tempestades de neve que duravam semanas. Até mesmo os ventos testavam sua resistência.
Ventos de até 160 km/h que mais de uma vez viraram as portas, vencendo a dobradiça e empurrando as portas contra as calotinhas.





                                                  
Fora ter que reforçar as portas de vez em quando, o único problema que o carro teve nesses 12 meses e quase 2.400 quilômetros na Antártida foi que a estrutura onde a barra de torção dianteira era fixada geralmente se partia contra as rochas. Em um de seus relatórios para a VW da Austrália, McMahon elogiou a capacidade do carro de lidar com o terreno.
Nesta viagem encontramos encostas de gelo, campos nevados, vales repletos de fendas e nenhuma dor de cabeça para o “Terror Vermelho”. A chegada a Fischer é em uma encosta nevada bem íngreme agravada pela neve fofa, mas o VW alcançou o topo.
 Alguns de seus telegramas somente faziam referência ao quão bizarramente incrível devia ser dirigir um Fusquinha vermelho pela paisagem congelada.

DIRIGI COM O VOLKSWAGEN A RUMDOODLE.
EXCELENTE DESEMPENHO. RODAR DIVERTIDO. McMAHON.
É a pista de Rumdoodle, que o Terror Vermelho visitou muitas vezes. O besouro frequentemente carregava pessoas e equipamentos pelos 19 quilômetros entre a pista e a estação de pesquisa. O tempo recorde entre a base e Rumdoodle era de 50 minutos, o que dá uma ideia do quão brutal era o terreno na Antártida. O carro permitia ainda que os cientistas formassem excursões entre a base e o local de pesquisa, e quando o porto congelava e o tempo estava bom, levava esquiadores e era usado pelos domingueiros sobre o mar congelado.



Quando finalmente voltou para a Austrália em 1964, foi devolvido à VW, mas ao invés de colocá-lo em um museu, como se esperaria de um veículo histórico, o inscreveram no rali BP disputado pela Austrália em 1964. Sério! E o Terror Vermelho venceu de cara! Nem é preciso dizer que a VW divulgou a todos os ventos sua pequena história de sucesso, e até produziu este curta com os 300 metros de filme que a VW deu a McMahon lá em dezembro de 1962.

Por mais histórico que o carro possa parecer, seu paradeiro é desconhecido. Um grupo de fãs australianos da marca montou uma grande operação de busca em 2002. Mas não conseguiram nada.

Se você encontrar um Fusca vermelho com alguns adesivos curiosos em sua porta, lembre-se de mandar um email.

Crédito das fotos: Jalopnik